sexta-feira, 25 de abril de 2008

Biocombustíveis

É muito interessante acompanharmos os jogos de cenas nas relações internacionais. Os países ricos quase sempre são os autores dos ``scripts`` e todos devem seguir diligentemente os mesmos, sendo que, se algum figurante ousar tentar aparecer além do que já estava previsto, será sumariamente excluído do ``set``.
Pois bem, no caso dos biocombustíveis, o ``script`` já estava pronto, o espetáculo já em andamento, os atores principais com as falas decoradas e dando as ``deixas`` para os co-adjuvantes, pouco acostumados aos holofotes, terem seus minutos de glória. Seria um grande sucesso de bilheteria. Os países ricos representando, como atores principais, os interesses ecológicos e o progresso da humanidade, defenderiam ardentemente, o uso do álcool combustível, do biodíesel, de energias renováveis, etc, etc... Já os países em desenvolvimento, co-adjuvantes, seriam os soldados desta luta, combatendo a poluição, dando provas de que o trabalho degradante estaria sendo combatido e gerando muitas oportunidades de novos negócios para um futuro mundo igualitário. E quiçá, num ``gran finale``, um ou dois destes atores seriam promovidos a astros dos próximos espetáculos, com direito a participar da elaboração de novos ``scripts``. Existem também os países pobres, os figurantes. Bem eles teriam que desempenhar seu papel de sempre: preencher o cenário, e fazer cara de aprovação á tudo que for dito, e vez por outra ser empurrado por um soldado, quando da passagem de alguém importante em meio a alguma manifestação. Estava tudo conforme o que fora ensaiado. Uma beleza!
Mas eis que de repente entram em cena novos elementos: crise financeira americana, alta exorbitante do petróleo, queda do dólar, que leva a uma provável falta de alimento. Começa então a confusão, e o ``script`` tem que ser re-escrito. O tema ecológico já não é mais tão importante, a falta de alimento sim. E é até lógico que seja, já que entre morrer de fome no futuro devido a problemas ecológicos ou morrer de fome agora por falta de alimento a escolha é óbvia. Mas todos os atores principais gostam de fazer o papel de mocinho, salvadores do universo, super-heróis, eles jamais poderiam ser os causadores da fome, da tragédia. Eles são mocinhos, não bandidos. E além do mais, o roteiro é deles, são eles que escrevem, e como num passe de mágica, num momento de profunda inspiração criadora dá-se a solução: Vocês lembram do grande milagre? Os biocombustíveis? Pois bem, era só um disfarce. Na verdade era um lobo em pele de cordeiro, tinha enganado nossos heróis por algum tempo, mas como sempre nossos heróis em suas genialidades logo sacaram: aí está o mal. É ele a origem do problema. Vamos ataca-lo por todos os lados e vamos derrota-lo. Ah! E sabe aqueles co-adjuvantes que iriam passar para o grupo dos atores principais? Eles pagarão o prejuízo pelo atraso do espetáculo. Não importa se a produção de grãos subiu 3,6% este ano, e a previsão para o próximo seja semelhante. Não importa se, com todos os fatores adversos, e só com a própria competência consegue manter os preços dos alimentos em patamares parecidos, e que foi o dólar que se desvalorizou e, portanto é o dinheiro deles que não compra mais o que se comprava antes. O que realmente importa é que o culpado apareça, afinal sem bandido não existe mocinho, e não será um ator co-adjuvante, com sua excepcional produção de alimentos que será o mocinho, e não serão os atores principais com seus subsídios que serão os bandidos. Este papel não foi escrito para ele. O co-adjuvante será o bandido e pronto. Ele tem a obrigação de alimentar o mundo inteiro, mesmo que seja pela força. Opa! Pela força? Acho que já vi este filme antes.
Deva Mantovani

terça-feira, 15 de abril de 2008

Em busca do desenvolvimento.

Na última Semana-Santa, fui juntamente com minha esposa, visitar parentes e amigos que residem no estado do Mato Grosso. Na noite anterior à viagem, recebi um telefonema de minha sobrinha, preocupada, me alertando para as más condições de algumas estradas. Ela não entendeu bulhufas quando desatei a rir – foi quando lhe expliquei o motivo de tanta graça: - Eu moro em Rio Preto, já estou acostumado a desviar de buracos e de algumas crateras, e isso em avenidas de grande movimento. Realmente, chega ser engraçado, se não fosse uma falta de respeito para com o contribuinte e para com os turistas que aqui chegam.
Como é possível tamanho descaso com esta situação? Temos aqui uma cidade com um grau de desenvolvimento elevado, um orçamento polpudo, repasses de verbas estaduais gordas. Então, por que esta situação? Sem mencionar a coleta de lixo, que está totalmente desorganizada e falha. Eu pergunto: Por quê?
O certo é que todos nós queremos que nosso País chegue à condição de pleno desenvolvimento. Posso assegurar, com a experiência de quem conheceu e morou em lugares plenamente desenvolvidos, que sem uma infra-estrutura voltada ao bem estar do cidadão e à preservação do patrimônio público, assim como, o trato respeitoso aos cidadãos e turistas, não se chega, ao tão almejado, desenvolvimento pleno. Que nossas autoridades públicas reflitam sobre isto.
Deva Mantovani
(Texto publicado no Informativo Viva-Voz.)