quinta-feira, 13 de março de 2008

Centenário da Imigração Japonesa no Brasil‏.

Texto recebido do grande amigo Yukio, com quem tive o prazer de trabalhar e conviver por longos anos, lá em Nagano-ken, Japão.
``No ano das festividades do centenário da imigração japonesa noBrasil, as colônias japonesas já estão em festas. Bom, o quesignifica cem anos? Significa muito, significa no mínimo quatrogerações, ou seja, já estamos nos yonseis. Então fica a pergunta, Oque é ser "japonês" para nós que já somos até da quarta geração? Equal seria a importância dessa comemoração para nós? Recentemente,assisti a minissérie (Haru e Natsu:As cartas que não chegaram),transmitida a poucos dias atrás pela bandeirantes. Fugindo da pobreza,uma família parte para trabalhar no Brasil. A idéia era ganhardinheiro e em poucos anos voltar para o Japão, onde avó e filha maisnova ficaram. Esta família estaria nas últimas levas migratóriaspromovidas pelos governos do Japão e do Brasil; entre 1925 e 1934,mais de 120 mil japoneses chegaram ao Brasil. Em 1934, o Estado Novode Getúlio Vargas restringe drasticamente a entrada de estrangeiros nopaís. Logo depois, com a II Guerra Mundial, a possibilidade de retornodiminui e os japoneses fixam-se definitivamente no Brasil. Será que aguerra foi apenas um pretexto? Algumas famílias, sem dúvida,conseguiram prosperar com fazendas, comércio, ou pequenas indústrias,elas largariam tudo no Brasil para voltar? Outras famílias, a maioria,estavam trabalhando quase como escravas nas fazendas de café e algodãode São Paulo e não enriqueceram. Envergonhadas, voltariam? De um jeitoou de outro, ficamos. Coitados dos que não prosperam aqui,aposentaram-se na lavoura e hoje recebem e sobrevivem com o benefíciomínimo do INSS.Neto de japoneses, sou sansei, o que resta de japonês em mim? Umsansei pode falar como sendo um japonês? Ler as revistas daSeicho-no-ie, fazer alguns origamis, comer sushi usando hashi eassistir anime, um monte de brasileiros também faz. Jogar um pouco deshogi e hanafuda, usar mimikaki no lugar do cotonete, saber usar osoroban (ábaco), dormir em futon, comer nattô e depois percebo oquanto é difícil falar japonês. Hoje, sansei que domina o japonês épra poucos... Então, sou japonês?Em 2008, também poderíamos comemorar20 anos (aproximadamente) da emigração de (dekassegis/nikkeis)brasileiros no Japão. A partir do final da década de 1980, nisei,sansei e yonsei começaram a "retornar" ao Japão com as mesmasintenções de seus ancestrais para trabalhar, enriquecer e voltar. Ahistória está se repetindo às avessas? Estamos fechando um "ciclo"?Somos fisicamente parecidos com os japoneses, a cultura japonesa nãonos é totalmente estranha, mas mesmo assim, lá somosgaijin's(estranhos/estrangeiros) E no Japão os trabalhos ao qual somosimpostos são os trabalhos 5K's: Kitanai (sujo), Kiken (perigoso) eKitsui (penoso), Kibishii (exigente) e Kirai (detestável). Por que?Porque o Japão do século XXI parece com o Brasil do início do séculoXX. O Brasil é a terra dos imigrantes, sempre. Já o Japão nunca haviarecebido tantos imigrantes antes dessa onda migratória de dekasseguis:já são mais de 250 mil lá! Será que em uma ou duas gerações, os"brasileiros" no Japão serão reconhecidos e valorizados assim como acolônia "japonesa" é no Brasil no século XXI? Nossos avós sofrerambastante no início do século XX logo que chegaram ao Brasil:preconceito, dificuldades de adaptação ao clima, à alimentação, etc.Graças ao sucesso de algumas (não todas) famílias, hoje é mais "fácil"ser japonês no Brasil. Temos orgulho de nossas origens e comemoraremoso centenário da imigração. Mas lá no fundo... Coração brasileiro oujaponês? Brasileiro, né? Comemoraremos então o centenário pelo simplesfato da colônia japonesa ter adquirido um direito moral aqui. E lá, osbrasileiros terão o que comemorar nos seus 20, 30, 40,...,100 anos deimigração? Difícil de prever, esperaremos pra ver...
um grande abraço!
--YAMANO, Sandro Y.sandroyamano@gmail.com``

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